Idoso

A velhice é um fenômeno complexo que envolve diversos fatores, sendo polêmica a definição quanto ao limite etário para estudar este grupo populacional. A idade de 60 anos vem sendo, sistematicamente em países de Terceiro Mundo como ponto de corte para definir os "idosos". Este corte foi recomendado, também, pela Organização Mundial de Saúde, em 1984, no Relatório do Grupo de Especialistas sobre Epidemiologia e Envelhecimento. O Demographic Yearbook menciona que, nas Nações Unidas, a idade de 60 anos é geralmente usada como a idade que define a velhice.

Nas últimas décadas, o número de pessoas com 60 anos ou mais tem aumentado consideravelmente nos países da América Latina, principalmente em Cuba, Argentina, Uruguai, Chile e Brasil. As informações levantadas pela PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) mostra que o número de idosos no Brasil já é um dos maiores do mundo, cerca de 13,5 milhões de pessoas. Para alcançar esta população idosa tão numerosa, dois processos foram fundamentais: a transição demográfica e a transição epidemiológica, fenômenos pelos quais vem passando a sociedade brasileira nas últimas décadas.

A queda da taxa de mortalidade e a redução da taxa de fecundidade, a partir da década de 60, são os dois determinantes básicos da transição demográfica, caracterizada pela mudança de um nível alto de mortalidade e fecundidade para níveis mais baixos, o que altera significantemente a estrutura etária da população.

Associado ao processo de transição demográfica ocorre o da transição epidemiológica, onde a diminuição das taxas de fecundidade e das doenças infecto-contagiosas – como consequência do desenvolvimento da tecnologia médica e da melhoria das condições de saneamento básico – aumenta a esperança de vida e a importância das doenças de caráter crônico-degenerativo como principais causas de morte, tais como as do aparelho circulatório, os neoplasmas e o diabetes, acarretando um aumento na longevidade das pessoas e no peso relativo dos idosos no total da população.

No Brasil, os estudos existentes sobre o tema da terceira idade não são numerosos. Este assunto tem sido abordado com maior freqüência nos países desenvolvidos, onde o processo de envelhecimento da população não é um fenômeno recente. Entretanto, os poucos estudos brasileiros têm apontado, de forma recorrente, que o processo de envelhecimento da população brasileira é considerado irreversível – diante do comportamento da fecundidade e da mortalidade registrado nas últimas décadas e do esperado para as próximas – e enfatizam a importância dos estudos sobre a população idosa.

A distribuição dos idosos segundo os grupos de idade não é homogênea e, embora a expectativa de vida a partir dos 60 anos esteja aumentando, ainda é maior a proporção de pessoas idosas na faixa etária de 60 a 69 anos. Isto demonstra que o processo de envelhecimento da população brasileira, apesar de intenso, ainda é recente, diferenciando-se da situação encontrada nos países desenvolvidos, onde a transição demográfica ocorreu há mais tempo e a população idosa concentra-se, cada vez mais, nas faixas de idade de 80 anos ou mais.

Há 50 anos a expectativa de vida de um brasileiro era de 43 anos. Hoje essa expectativa está em torno de 68 anos, sendo que para o século XXI deverá chegar a 73 anos. Segundo o I.B.G.E. nosso país deverá ter a sexta população mais idosa do planeta no ano 2025 com 34 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que representará 14% de nossa população.

O índice de motorização adotado internacionalmente é de 12% da população idosa, nos países do Primeiro Mundo. Para o Brasil, hoje, esta taxa talvez seja alta, mas para um Brasil futuro, poderá ser até maior, senão houver uma política de transportes coletivos eficientes.

O aumento da população de idosos é uma importante conquista da nossa sociedade. Este fato, entretanto gera uma série de novas circunstâncias relacionadas à manutenção da saúde, manutenção de habilidades físicas, cuidados médicos e de enfermagem especiais, além de gerar modificações ambientais, visando sempre os cuidados com o idoso. Com o avanço da idade o grau de independência individual diminuiu, gerando conseqüências ao meio em que o idoso vive: necessidade de acompanhante, de locais apropriados, diminuição na altura de degraus nos ônibus, ou aumento no tempo de sinal de trânsito, etc. Há também uma tendência a aumentar os cuidados com a saúde, que em determinadas circunstâncias são especiais, como por exemplo, a utilização de dietas apropriadas. Tais fatos exigem o aprimoramento de todos os setores relacionados com a terceira idade e evidentemente um significante aumento de custos.

As pessoas com mais de 70 anos, às vezes até antes disso, deixam de dirigir, ainda que o façam bem, na maioria das vezes para não correrem riscos de acidentes provocados por motoristas agressivos e imprudentes.

O motorista idoso é considerado educado e cuidadoso, sendo um observador atento às leis de trânsito, sendo pequena a ameaça que estes representam para o trânsito, porém, a maneira nervosa como se dirige em nosso País, exige interação entre estímulos e respostas rápidas obrigando o motorista responsável a manter atenção redobrada. Assim mesmo, não são poucas as situações em que têm de usar ao máximo suas habilidade psicomotoras para evitar acidentes.

 

Aspectos Geriátricos da Medicina de Tráfego

Dirigir é um importante meio para manutenção da liberdade e da independência de pessoas mais velhas. O indivíduo idoso costuma manter sua habilitação e seu automóvel o maior tempo possível, porque ele associa maior independência e bem estar ao fato de permanecer motorista.

Dirigir pode ser uma das poucas áreas na vida de uma idoso onde ele pode "seguir seus próprios caminhos", especialmente quando outros apoios já foram perdidos.

Dirigir um veículo motorizado é uma atividade complexa, que requer integração rápida e contínua de habilidades cognitivas, sensório-perceptivas e motoras de alto nível. Todas diminuindo em alguma extensão com o avanço da idade, comprometendo desse modo à habilidade necessária para dirigir com segurança.

Portanto a terceira idade é caracterizada como a "idade de perdas". Quanto mais se vive mais se perde a nível de função dos órgãos e sentidos, fazendo com que o idoso passe a ter um relacionamento social mais difícil.

 

Habilidade Motora

Os elementos chaves para a habilidade motora ao dirigir incluem força, amplitude de movimento das extremidades, mobilidade do tronco e pescoço e propriocepção (percepção da posição e movimento do corpo). Todas as alterações que ocorrem nos músculos, ossos, articulações e tendões, provocados pelo envelhecimento podem afetar a habilidade motora. Diminuições da força muscular são devidas principalmente a diminuições na massa muscular total, no número e tamanho das fibras musculares, na atividade da miosina ATPase e na sensibilidade ao estímulo elétrico.

A força é um requisito importante mesmo para dispositivos como freios ABS e direção hidráulica. Estabilidade do tronco, resistência e coordenação, podem estar afetados pela fraqueza motora, dificultando o controle adequado desses dispositivos.

Qualquer patologia que leve a alterações nas articulações e tendões pode afetar adversamente a flexibilidade e estabilidade das articulações.

Há dúvidas se a propriocepção está significantemente alterada no motorista idoso.

 

Função Cognitiva

A habilidade necessária para dirigir com segurança começa a se deteriorar com o envelhecimento. Em primeiro lugar, o prejuízo cognitivo, principalmente quando causado por uma doença que traga uma condição de demência, foi associado a maiores taxas de colisão com veículos motorizados, em indivíduos mais velhos. O Mal de Alzheimer é a causa mais comum de prejuízo cognitivo.

As alterações cognitivas associadas à idade, que não evoluem para a demência franca, podem afetar um grande número de motoristas. As funções cognitivas relacionadas à direção veicular incluem a memória e atenção, a avaliação sistemática do ambiente e outras habilidades visuoespaciais, verbais e de processamento de informações, tomada de decisões e resolução de problemas. Estas funções devem se processar de modo dinâmico.

Em relação à direção, autoavaliações da função sensória e motora, além da função cognitiva são importantes. Grande parte do debate sobre restrições formais de habilitações baseia-se na suposição de que o motorista faz uma auto-avaliação imprecisa da sua performance na direção. Supõe-se que pessoas idosas ou cronicamente doentes não sejam capazes de julgar adequadamente sua próprias habilidades e tomar a decisão certa. Portanto, as autoridades médicas ou legais precisam faze-lo para elas.

 

Função Sensório-Perceptiva

Acuidade Visual: As quatro maiores causas de deficiências de visão nos idosos são a maculopatia relacionada à idade, catarata, glaucoma e retinopatia diabética. Estas condições podem afetar gravemente a visão central, periférica ou ambas.

Além das patologias características da idade, acontecem várias alterações óticas no olho do idoso, que têm efeitos determinantes sobre a formação da imagem na retina, prejudicando a visão, principalmente noturna: opacidade do cristalino, tendência a miose pupilar fixa com menor estímulo luminoso chegando à retina (uma pessoa de 60 anos recebe cerca de um terço de luz da retina de um jovem de 21 anos) e a presbiopia.

O sistema nervoso autônomo envolvido no processamento da visão também sofre alterações na fase adulta, como por exemplo, perda dos bastonetes (especializados para a visão noturna) maior do que a de cones (visão de cores e luz do dia).

Muitos aspectos da função visual do idoso sofrem alterações com o passar dos anos, mesmo em adultos que não tenham doença oftalmológica. O idoso apresenta diminuição na velocidade do processamento visual, significando que o processamento de eventos visual de ocorrência rápida representa uma dificuldade especial para eles. A sensibilidade visual por todo o campo de visão, incluindo a visão periférica também é afetada pelo processo de envelhecimento, sendo assim os limites ou isópteras do campo visual estão diminuídos nos idosos (de 190º graus no adulto jovem para 140º graus aos 50 anos). Como a maioria da recepção de informações sensoriais para o motorista vem da percepção visual e muito desta vem da periferia, não é de se surpreender que motoristas com visão periférica diminuída tenham taxa de acidente em rodovias duas vezes mais altas do que aqueles com visão periférica normal.

A adaptação visual, isto é, o processo pelo qual uma pessoa ajusta-se visualmente a diferentes níveis de iluminação ambiental, também está alterada no idoso. Eles precisam de um tempo maior que os jovens para se ajustar à mudança abrupta de claridade ou escuridão. Por isso, motoristas idosos freqüentemente sentem dificuldade para lidar com o início repentino de luzes brilhantes, tais como os faróis de um carro no sentido contrário.

Portanto, é evidente que para se diminuir o risco da direção insegura no idoso é preciso assegurar que eles tenham a melhor visão possível e que as doenças e condições oculares tenham sido avaliadas adequadamente por um oftalmologista.

Acuidade Auditiva: A função auditiva é também importante para a direção. Pessoas com campos visuais limitados ou aquelas que não rastreiam sistematicamente o ambiente do trânsito podem tornar-se conscientes da presença de um veículo ou pedestre apenas quando soa buzina ou com a ajuda do passageiro ao lado. Como tudo no idoso, a audição também diminui, sendo que a partir dos 60 anos, a maioria deles apresentam alterações de audiometria, com problemas auditivos.

Estudos definem a classificação dos idosos da seguinte forma:

  • Jovem idoso – entre 65 e 74 anos;
  • Idoso – entre 75 e 84 anos;
  • Idoso Idoso – acima de 85 anos.

Segundo o IBGE, 65 anos é o início da 3ª idade para países desenvolvidos e 60 anos para os países em desenvolvimento.

Andar é uma atividade sadia e que mantém a forma física do idoso, o qual está sempre indo ao banco, fazendo compras, visitando alguém e por conseqüência necessita atravessar ruas, avenidas estradas, razão pela qual sofre nestas ocasiões uma exposição maior ao perigo dos veículos.

Devido à restrição de suas capacitações e os reflexos geralmente comprometidos nesta idade, certas dificuldades foram detectadas em motoristas idosos:

  • Manobrar à esquerda, atravessando um tráfego;
  • Adentrar em uma via de alta velocidade;
  • Trocar de faixa em uma pista congestionada;
  • Transpor cruzamento com alto volume de tráfego;
  • Parar rapidamente em uma ista de tráfego.

Considerando que hoje quase tudo se move sobre rodas e a independência de vários motoristas idosos está condicionada à sua capacidade de dirigir, é fácil concluir que a inaptidão da habilitação representa ao idoso, a mais dolorosa de suas perdas provocadas pelo processo natural de envelhecimento, pois o ato de dirigir, exige rapidez diante das modificações que ocorrem no trânsito, no momento que se está conduzindo um veículo, e esta agilidade de raciocínio, vai diminuindo com o passar do tempo.

O que acontece então, é que muitas pessoas idosas, acham uma estupidez desgastar-se física e psicologicamente na competição do trânsito. Deixam de dirigir, ou reduzem seus deslocamentos ao estritamente necessário, buscando caminhos e horários em que o trânsito é menos tenso.

Os que não têm automóvel vão reduzindo, gradualmente, seus deslocamentos, tanto pelo desconforto e dificuldades em usar os transportes públicos, como pelo risco de andar a pé.

Os idosos são mais suscetíveis de cair, seja pelas dificuldades motoras, seja por deficiência de visão. A situação irregular dos pavimentos de nossas calçadas, quando existem, oferecem verdadeiras armadilhas para eles. O congestionamento de pedestres em alguns locais, torna-os proibitivos aos idosos, pois as pessoas neles se deslocam aos empurrões e cotoveladas.

É cada vez mais freqüente a invasão das calçadas por rampas de acesso a garagens, tornando-as muito inclinadas lateralmente. Tanto essas rampas, como as subidas e descidas ao longo da calçada, devidas a topografia do terreno, deveriam ser controladas, de forma a não ultrapassarem, 3% de inclinação lateral, e 12%, longitudinal. O que se observa, porém, é um desrespeito a esses parâmetros, tornando impossível aos idosos, e desconfortável aos de menos idade, andar a pé com segurança.

Não são poucos os exemplos de avenidas de duas mãos com uma ou duas faixas em cada sentido, sem canteiro central, ou ilha de refúgio. Pode-se imaginar a situação de um idoso tentando atravessá-la, olhando para a esquerda e direita, rapidamente. Além disso, nas esquinas, há veículos fazendo conversões à esquerda e direita, dificultando, ainda mais, a travessia do pedestre.

Para garantir a fluidez do trânsito de veículos, e não de pedestres, há muitos casos em que a travessia de avenidas tem de ser feita em duas etapas. Além do tempo adicional que isso representa, sujeita-se o pedestre a uma exposição maior ao ruído e à poluição do tráfego intenso.

O sol escaldante e as chuvas torrenciais constituem fatores altamente negativos para o idoso que se desloca mais lentamente na busca de sombra ou abrigo.

Nossos planejadores e operadores de trânsito são pouco sensíveis às necessidades dos pedestres em geral, muito menos de seus segmentos mais frágeis. Seu foco de atenção é o veículo. Seu objetivo é garantir-lhe fluidez no trânsito. Se houver perigo para o pedestre, busca-se sua segurança, mesmo que seja com prejuízo a seu conforto e conveniência.

 

Avaliação do Motorista Idoso

Ainda não faz parte da anamnese regular saber se o paciente idoso dirige, se o faz com segurança, o quanto dirige e se ele já tem noção de que o ato de dirigir pode tornar-se um risco maior que o habitual.

Esse aspecto só é abordado quando o paciente apresenta algum problema de saúde óbvio, como por exemplo, um déficit visual importante. A questão da prevenção não faz parte da abordagem ao paciente idoso.

Outra questão importante na avaliação do motorista idoso é a possibilidade da interação dinâmica das deficiências funcionais. Embora as deficiências simples possam ser compensadas facilmente, nas múltiplas, a compensação é mais complexa: por exemplo, uma lesão ocular num motorista idoso com artrite, dor lombar inferior, campo visual reduzido e deficiência cognitiva leve, será mais difícil ou impossível de ser compensada.

 

Medicamentos

Ao contrário do motorista jovem, o motorista idoso é um típico consumidor de medicamentos.

É difícil encontrarmos na terceira idade pacientes que não estejam fazendo uso de um ou mais medicamentos, por prescrição ou automedicação, e que podem se somar nos seus efeitos colaterais.

Portanto na anamnese do idoso, a investigação do uso de medicamentos é de fundamental importância.

Os medicamentos freqüentemente usados por pacientes idosos, com efeitos adversos sobre a direção veicular, incluem os benzodiazepínicos, os antidepressivos, os analgésicos opióides, os antihistamínicos e os hipoglicemiantes, todos agindo direta ou indiretamente sobre o Sistema Nervoso Central, e sobre o ato de dirigir.

1. Benzodiazepínicos e outros ansiolíticos e hipnóticos:

Devido a sua eficácia e a alta segurança, os benzodiazepínicos são atualmente o medicamento mais receitado para o controle da ansiedade e insônia na população idosa.

Como resultado das alterações farmacocinéticas que ocorrem com a idade, para muitos benzodiazepinicos, a concentração sérica produzida por uma determinada dose oral aumenta com a idade. A eficácia dos processos oxidativos no fígado também está reduzida em função da idade. Portanto drogas com meia vida longa podem apresentar efeito sedativo cumulativo.

Os benzodiazepínicos prejudicam a visão, atenção, o processamento de informações, a memória e a coordenação motora, demonstrando assim alterar de forma marcante a função psicomotora.

2. Antidepressivos tricíclicos:

Principal medicação para o tratamento da depressão em pacientes idosos, também prejudicam a função psicomotora, incluindo a atenção, memória e coordenação motora.

3. Antihistamínicos:

Também prejudicam o desempenho psicomotor.

4. Hipoglicemiantes:

Embora a insulina e os hipoglicemiantes orais prejudiquem a função psicomotora e, portanto a segurança do motorista idoso, o grande enfoque ainda deve ser dado ao risco e controle da hipoglicemia, já que ela está associada a alterações da função cognitiva e da memória, assim como a um desempenho diminuído em testes de visão, processamento de informações e coordenação motora.

 

Condições que costumam aumentar o risco da direção perigosa

As patologias que afetam a direção veicular são aquelas que alteram o nível de consciência ou do controle corporal, sendo, portanto usadas como previsão de um comportamento inseguro ao volante.

Entre as patologias neurológicas que afetam o controle corporal, a doença cerebrovascular e o Mal de Parkinson exigem maior atenção.

a. Desordens que envolvem convulsões (epilepsia e doenças cerebrovasculares)

As convulsões reentrantes são pouco frequentes no paciente idoso, já que aparecem em fases mais precoces da vida. O que o idoso apresenta com mais freqüência são quadros convulsivos secundários a acidentes vasculares cerebrais (isquemia), que ocorrem na instabilidade metabólica da fase aguda da doença. Conforme a população envelhece, o acidente vascular se torna cada vez mais comum e a idade média da vítima aumenta.

Não há como prevenir ou impedir, durante a direção veicular, as convulsões do idoso, cuja causa seja a isquemia cerebral.

b. Diabetes

As complicações crônicas do diabetes, especificamente macroangiopatia e microangiopatia, assim como envolvimento do sistema nervoso autônomo e periférico e o aparecimento prematuro de catarata, podem ocorrer tanto no diabetes insulino dependente ou não. A hiperglicemia não controlada pode levar à fadiga, letargia e lentidão. Estes sintomas podem ser prejudiciais para o motorista, mas não há estudos que correlacionem os níveis precisos de hiperglicemia com qualquer destes sintomas, para sugerir recomendações precisas.

Por outro lado, a concentração sanguínea decrescente de glicose leva à perda gradual de todas as funções cerebrais, juntamente com diminuição da atenção.

Para que haja maior segurança na direção veicular, a Associação Médica Americana divide os pacientes com Diabetes Mellitus em três grupos, baseado na possibilidade de perda de consciência:

1 – Grupo de baixo risco: paciente diabético, sem uso de medicação e não apresentou consciência alterada devido ao diabetes durante os três últimos anos;

2 – Grupo de risco intermediário: diabético em uso de medicação ou não, sem apresentar alteração de consciência no último ano;

3 – Grupo de alto risco: diabético em uso de medicação ou não, com alteração de consciência no último ano.

Embora o risco deste último grupo se envolver num acidente seja maior, não existem ainda evidência claras relacionando a hipoglicemia à diminuição da segurança na direção veicular. Fica a critério do médico a orientação e a liberação ou não da direção veicular.

c. Doenças cardíacas

São muito difíceis de prever e, portanto podem acontecer durante a direção veicular.

O diagnóstico e a avaliação da angina estável no motorista idoso pode ser um desafio. Quando a carteira de habilitação está em jogo, a negação da doença precisa ser considerada para qualquer indivíduo. Além disso, o idoso pode ter dificuldade para lembrar-se dos sintomas devido a um déficit de memória. É importante o médico conhecer o grau de instabilidade da doença, isto é, saber se a angina é instável, se a arritmia está fora de controle, ou se a insuficiência cardíaca é grau III ou IV.

Portanto, a doença cardiovascular, no idoso não impede a direção veicular, entretanto, a segurança para o paciente e o público depende do relacionamento entre o paciente é o médico, já que ele vai detectar qual a patologia que está instável (e, portanto poderia complicar) e o que deve ser feito.

d. Demência

Demência é a perda das funções cognitivas, principalmente para a memória recente, de início insidioso. Muito prevalente hoje em dia, devido ao aumento de vida média.

A demência do ponto de vista prático se divide em dois grupos:

1 – Mal de Alzheimer: muito prevalente;

2 – Vascular.

A demência do tipo Alzheimer tem uma particularidade: o seu diagnóstico precoce é muito complicado. Por não ser facilmente distinta da demência incipiente ou muito leve ou do declínio das funções superiores associado à idade, o médico tem dificuldade de fazer o diagnóstico em pessoas nos estágios iniciais da doença, muitas das quais ainda motoristas (6).

De uma maneira interessante, muitas vezes se detecta a demência exatamente por causa da ocorrência contínua de acidentes de trânsito, no indivíduo idoso. Isto acontece devido à perda das funções cognitivas superiores, integrativa e dificuldade de resolver mais de um estímulo rapidamente.

Devido à natureza progressiva do motorista de Alzheimer, com o tempo, as pessoas se tornam incapazes de dirigir com segurança e eventualmente param de faze-lo.

Por estas razões, a avaliação das habilidades relacionadas à direção, incluindo atenção, é importante para a avaliação funcional dos motoristas idosos com e sem demência.

e. Mal de Parkinson

O paciente que pode apresentar problemas em relação ao ato de dirigir é aquele que está na fase de bradicinesia (movimentos e reflexos lentificados), na fase inicial da doença e não aquele que já está com o quadro clássico instalado.

É uma fase de difícil diagnóstico, por ser uma fase de identificação mais complexa.

f. Artrite

Problemas musculoesqueléticos, particularmente a osteartrite, são muito prevalentes entre adultos mais velhos.

A maioria dos efeitos da artrite sobre a habilidade para dirigir são consequentes à dor, levando à hesitação e restrição na amplitude dos movimentos.

Na avaliação do motorista idoso com artrite, a questão da imobilidade e o quanto significam para eles manter-se dirigindo são os principais fatores a se considerar. A sua auto imagem já pode estar seriamente afetada pela falta de mobilidade devido à artrite, sendo assim, deixar de dirigir pode ser mais traumático para eles do que para uma pessoa idosa não artrítica.

Adaptações no veículo como direção hidráulica e cambio automático, assim como espelhos especiais para aumento da visibilidade, são os mecanismos de compensação mais importantes para as deficiências musculoesqueléticas do motorista idoso.

 

Condições comuns em pessoas idosas relacionadas com acidentes de trânsito

  • Doenças pulmonares e cardiovasculares;
  • Doença cardíaca isquêmica;
  • Arritmias;
  • Apneia do sono;
  • Diabetes Mellitus;
  • Doenças neurológicas;
  • AVC;
  • Alzheimer;
  • Parkinson;
  • Neuropatias;
  • Convulsões;
  • Polifarmácia;
  • Artrites;
  • Uso de álcool.

 

Diretrizes para um bom manejo das condições médicas mais comuns do idoso na preservação da segurança veicular

  • Angina dirigindo: Pare o carro até controle dos sintomas;
  • Infarto agudo do miocárdio com colocação de marca-passo: parar de dirigir por um mês;
  • Síncope de origem desconhecida: parar de dirigir por um ano;
  • AVC ou Ataque Isquêmico Transitório: parar de dirigir pelo menos um mês;
  • Epilepsia: não dirigir por um ano depois de retirada das drogas e por três anos se dirigir à noite;
  • Diabetes Mellitus controlada com dieta: não há problemas para direção veicular;
  • Diabetes Mellitus controlada com hipoglicemiantes orais: com comprovação de ausência de problemas visuais ou hipoglicemia. Licença anual para dirigir;
  • Diabetes Mellitus controlada com insulina: licença semestral para dirigir. A confirmação de boa saúde a cada renovação do exame médico;
  • Demência recente: permitida a direção até onde conseguir "insights"e níveis adequados de julgamento, além de não apresentar desorientação têmporo – espacial. Renovação anual da licença para dirigir;
  • Minimize o uso de drogas. Se a droga tiver efeito sedativo, avise o paciente e sugira não usar álcool;
  • Atue nos problemas constantes;
  • Maximize a visão;
  • Alerte o seu paciente que o tempo de resposta pode não ser tão bom como era. Mantenha mais distância do que o recomendável e no limite da velocidade. Evite horário de tráfego pesado. Evite viajar a noite;
  • Fixe um espelho auxiliar no seu carro. Ele pode melhorar o seu campo de visão;
  • Todo médico deve saber se o seu paciente faz uso da direção veicular.

 

Frases

  • O ato de dirigir é tido como corriqueiro, mas é uma tarefa complexa e é dependente das funções cognitivas, motora e Sensório-Perceptiva. Todas diminuindo em alguma extensão com o avanço da idade;
  • Não existe idade padrão fixada pela legislação para retirar o direito de dirigir do cidadão. Cabe ao médico especialista a última decisão;
  • O motorista idoso é mais propenso a ter uma doença física do que o mais jovem e tem mais possibilidade de estar usando medicamentos, que podem exercer efeitos negativos no ato de dirigir;
  • Dirigir pode ser uma das poucas áreas na vida de um idoso onde ele pode "seguir seus próprios caminhos”, especialmente quando outros apoios já foram perdidos;
  • Quando a carteira de habilitação está em jogo, a omissão ou negação da doença precisa ser considerada para qualquer indivíduo;
  • Médicos geriatras e clínicos geralmente falham em orientar preventivamente os motoristas idosos, que apresentam pequenos déficits ao exame, quando este ainda tem boa condição clínica.